sábado, 12 de maio de 2012


Brasil e China: uma reunião de concertação e cooperação (Valor Econômico)

Fonte: MRE

Tenho a satisfação de copresidir, até amanhã, juntamente com o vice-primeiro-ministro da China, Wang Qishan, a 2ª Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), que constitui o mecanismo formal de mais alto nível nas relações bilaterais com a China.
A Cosban proporciona os canais institucionais necessários ao encaminhamento dos mais variados temas da parceria estratégica Brasil-China. Do diálogo político a temas de comércio e investimentos; da cooperação em energia, ciência e tecnologia à parceria no campo espacial e da educação e cultura, essa comissão envolve uma ampla gama de setores governamentais brasileiros, representando os interesses do empresariado, de instituições acadêmicas e de diferentes segmentos da sociedade brasileira.
Desde a primeira reunião da Cosban, realizada em 2006, quando a parte brasileira foi liderada pelo saudoso vice-presidente José Alencar, as relações sino-brasileiras apresentaram avanços expressivos, tornando-se crescentemente mais diversificadas e complexas. A face mais facilmente mensurável dessa relação nos mostra que, em 2006, o comércio bilateral era da ordem de US$ 16 bilhões, tendo crescido exponencialmente a cada ano, atingindo a cifra recorde de US$ 77,1 bilhões em 2011.
China e Brasil revelaram capacidade de reação rápida e consistente aos efeitos da crise de 2008 e de sua reincidência mais recente, centrada nos países da zona do euro. Os dois países têm importante papel a desempenhar na retomada da economia global e estão comprometidos a assegurar condições para manter seu crescimento interno de forma estável e robusta. Nossos respectivos programas domésticos de inclusão social foram intensificados, em benefício das camadas menos favorecidas de nossas populações.
Desde 2009, a China é um dos nossos principais parceiros comercial e fonte de novos investimentos no Brasil. Em 2011, nosso superávit com a China foi de US$ 11,5 bilhões, equivalente a 38% do superávit global brasileiro.
Com a visita de Estado da presidenta Dilma Rousseff à China, em abril de 2011, foram estabelecidas as bases para um salto qualitativo na parceria. O desafio é o de propiciar meios para irmos além da complementaridade que já caracteriza a relação bilateral. Precisamos, assim, diversificar os fluxos de comércio, de forma a aumentar a participação de produtos de maior valor agregado nas exportações brasileiras para a China.
No quadro da visita da presidenta Dilma Rousseff, houve também entendimentos com vistas a promover a diversificação dos investimentos nos dois sentidos. O Brasil empenhou-se com parceiros chineses no intuito de identificar novas áreas para investimentos, tendo presente a importância que atribui à agregação de valor às nossas cadeias produtivas.
Como resultado desse esforço, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China, o perfil dos investimentos chineses no Brasil, antes concentrados nos setores de mineração, agricultura e petróleo, começou a mudar em 2011. De janeiro a outubro daquele ano, foram anunciados 16 projetos que representam US$ 7,14 bilhões de investimentos diretos chineses no Brasil, dos quais 74% destinados a manufaturas, semimanufaturas e pesquisa e desenvolvimento, além dos investimentos chineses nos setores alimentício, de defensivos agrícolas e de energia.
A parceria Brasil-China na área espacial, iniciada na década de 80, foi redimensionada por ocasião da visita da presidenta Dilma Rousseff, com a decisão do lançamento, até novembro de 2012, do satélite CBERS 3 e, até 2014, do CBERS 4. O projeto CBERS, sigla em inglês de Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, representa marco pioneiro na cooperação em alta tecnologia entre dois países em desenvolvimento. Estima-se que mais de 50 cientistas brasileiros estejam vinculados ao projeto.
A China será  também importante parceira do Brasil na implementação do Programa Ciência sem Fronteiras, devendo receber anualmente até 100 estudantes e pesquisadores brasileiros no nível de pós-graduação, em áreas de alta especialização. A distância física e cultural permanece um obstáculo a ser vencido. Estamos buscando meios de maior aproximação entre as sociedades brasileira e chinesa por meio do ensino do mandarim em universidades brasileiras e do português na China, do estímulo ao turismo, do estabelecimento de centros culturais nos dois países, e da cooperação no campo dos esportes. Em 2013, será organizado o mês da China no Brasil e, no ano seguinte, o mês do Brasil na China.
A relação Brasil-China transcende a esfera bilateral e ganha contornos de grande relevância, neste momento de redesenho da governança global. Os dois países são parceiros no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); no G-20 - onde alinham interesses quanto à reforma das instituições financeiras internacionais; e no Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), onde coordenam posições sobre a temática da mudança do clima. A promoção do desenvolvimento sustentável é tema em que Brasil e China compartilham interesses.
Acolheremos com satisfação a delegação da China à Conferência Rio+20 sobre Desenvolvimento Sustentável, que terá como foco o desenvolvimento da economia verde em contexto de erradicação da pobreza.
Com o objetivo de sistematizar os avanços alcançados e projetá-los em um horizonte de longo prazo, a presidenta Dilma Rousseff acolheu muito positivamente a proposta do primeiro-ministro Wen Jiabao de elaborar um Plano Decenal, que começaremos a elaborar a partir dos resultados da 2ª Cosban, com vistas a sua assinatura por ocasião de visita ao Brasil do primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, prevista para este ano.
As relações entre o Brasil e a China são tão amplas quanto diversificadas. A Cosban nos permitirá revisitar os diferentes setores que compõem o mosaico dos interesses bilaterais, sempre dentro da perspectiva de longo prazo e do caráter estratégico que norteia nossa parceria.
Michel Temer é Vice-Presidente da República. 
Data: 13/02/2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012


Este pequeno resumo em inglês sobre a Revolução Americana é parte da coleção que está disponível no site da Biblioteca do Congresso Americano. O link está disponível ao final do artigo. Boa leitura!

Equipe Diplomacia e Cultura

Four Centuries of British-American Relations

Some scholars have argued that economics and class conflicts caused the American Revolution. However, most experts now endorse the traditional theory that the Revolution was a political conflict, caused by irreconcilable differences about how the American colonies should be governed. 

By 1776, the British were committed to the view that Parliament must exercise unchallenged authority in all parts of the empire, including the power to tax Americans without their consent. Americans believed that they were entitled to certain fundamental rights, the "rights of Englishmen," which put certain activities beyond the reach of any government.

Inability to compromise on these ideas led in 1775 to an appeal to arms.
Because of the strong bands of law, loyalty, faith and blood uniting the two peoples, many Americans were surprised that a war against the British had occurred. Most Americans believed themselves to be as English as their kin in the mother country, differing from them only in living in another part of the empire. 

Even on the eve of declaring independence most Americans would have been happy with what is today called "dominion status," which would have meant owing allegiance to the British monarch but otherwise enjoying political autonomy.

Since it began in 1775, the fighting was bloody. The Revolution, concluded by a preliminary peace treaty in the fall of 1782, was, after the Civil War, the costliest conflict in American history in terms of the proportion of the population killed in service. It was three times more lethal than World War II.

The brutality of the war convinced leading American statesmen such as George Mason (1725-1792) that enduring hostility would exist between Britain and America. Mason wrote in the autumn of 1778: "Enormities and cruelties have been committed here, which not only disgrace the British Name, but dishonour the human kind. We can never trust a People who have thus used us, Human Nature revolts at the idea."

Although hostility remained after the war, many Americans continued following British ways as eagerly as ever. In the 1790s one of the two leading American political parties sought a "rapprochement" with Britain -- a powerful testimony to the strength of what Thomas Jefferson (1743-1826), in the Declaration of Independence, called the "ties of our common kindred."

quarta-feira, 2 de maio de 2012


Pronunciamento do Ministro Antonio de Aguiar Patriota na 319ª Reunião do Conselho de Paz e de Segurança da União Africana, segmento sobre a situação na Guiné-Bissau – Adis Abeba, 24 de abril de 2012

Fonte: MRE



Privilegiamos o diálogo e a diplomacia e privilegiamos a melhor forma de coordenação possível entre os esforços regionais pela paz e o sistema multilateral, personificado nas Nações Unidas. Nesse sentido, o Brasil, país profundamente comprometido com os esforços de integração do seu entorno, vê com respeito e como fonte de inspiração tudo o que já alcançou a União Africana, na véspera de seu 50º aniversário, no plano institucional, e como todos sabem temos uma Comunidade de Nações Sul-Americanas que tem se coordenado com a África por meio das Cúpulas ASA, e considero que podemos incrementar esta coordenação. A meu ver, há muito a se aprender da experiência africana, e continuaremos a trabalhar juntos nesse espírito. Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, Sr. Mutaboba, por seu briefing, bem como ao Ministro da Côte d’Ivoire, representando o Presidente da CEDEAO, Presidente Ouattara, e o Comissário da CEDEAO, por fornecer as balizas para os presentes debates.
 O Brasil condenou veementemente o golpe militar e a interrupção das eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Associamo-nos ao comunicado que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa – CPLP adotou em 14 de abril, mas da mesma maneira poderíamos ter-nos associado ao comunicado emitido pela União Africana prontamente, se me permitem o comentário, em 17 de Abril, que suspendeu, com efeitos imediatos, a participação da Guiné-Bissau de todas as atividades da União Africana e expressou sua prontidão para acelerar a busca do objetivo de restaurar a ordem constitucional naquele país. Agradecemos também a Angola por sua valiosa contribuição aos esforços em prol da estabilização da Guiné-Bissau e da reforma do setor de defesa e de segurança. 
Talvez mais importante tenha sido a vigorosa Declaração Presidencial emitida pelo Conselho de Segurança, em 21 de abril, que não apenas rejeita o estabelecimento inconstitucional de um conselho nacional provisório pelas lideranças militares na Guiné-Bissau, mas também saúda e apóia a participação ativa e as medidas adotadas pela União Africana, Comunidade Econômica dos Estados da África Oriental – CEDEAO, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, e apóia a coordenação desses esforços para a restauração imediata da ordem constitucional. Acredito que se trata de manifestação de grande importância, pois, à medida que olhamos para o futuro, ela nos fornece uma base para um processo inclusivo de coordenação, englobando todos esses atores, processo esse que, acreditamos, deve voltar-se para um esforço de estabilização militar e política sob os auspícios das Nações Unidas.
Acredito que temos aqui uma oportunidade de evitar que a história se repita – e aqui cito o Comissário da CEDEAO –, pois, no passado, apesar de os problemas associados à Guiné-Bissau serem relativamente de pequena monta se comparados a muitos outros desafios, incluindo alguns de que se tratará hoje neste Conselho, a respeito do Mali e do Sudão, estamos lidando com um país de um milhão e meio de habitantes com forças militares relativamente pequenas e um esforço coordenado da comunidade internacional envolvendo todos os principais interessados, o que poderia ter grandes implicações ao enviar uma mensagem de eficácia no trato de desafios à paz e à segurança. Em contraste, um fracasso na Guiné-Bissau transmitiria uma sensação desapontadora de impotência em face de um desafio comparativamente inferior à paz e à segurança.
É neste espírito que o Brasil toma parte nesta reunião hoje, expressando sua prontidão e disposição em continuar trabalhando junto com os países-membros da União Africana, sob os auspícios das Nações Unidas, com vistas a construir um processo de coordenação que leve a um esforço de estabilização, uma missão de estabilização na Guiné-Bissau que permita não só a conclusão do processo eleitoral de acordo com a Constituição da Guiné-Bissau, como também a elaboração de um caminho para estabilização a longo prazo da Guiné-Bissau por intermédio de ações políticas e militares.
Espero poder continuar este diálogo com todos vocês aqui, na América do Sul, em Nova York e em outros fóruns e tenho certeza de que, com base no espírito que identifiquei aqui hoje, teremos êxito. Muito obrigado.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dilma Rousseff's visit to America

Our friends in the South


Fonte: The Economist
Apr 7th 2012, 14:52 by H.J.
BRAZIL has probably never mattered more to America than it does now. America has probably never mattered less to Brazil. Not that relations are bad between the two countries—far from it; they are increasingly cordial and productive. But America has finally, belatedly, woken up to the fact there is a vast, stable country to its south as well as its north; a country, moreover, with a fast-growing and voraciously consuming middle class that seems to offer salvation to American businesses struggling in a moribund domestic market. Brazil, meanwhile, neither needs loans from American-dominated global financial institutions, nor is it otherwise beholden to the country. The United States is no longer even its biggest trading partner. China took that spot in 2009.
A more balanced relationship may be a more fruitful one too. Since Barack Obama’s visit to Rio de Janeiro and Brasília last year, America has delighted Brazil by removing import tariffs on its ethanol and piloting a scheme to make it easier for Brazilians to get visas—two long-standing bugbears. Brazil’s president, Dilma Rousseff, makes a return visit to Washington in the coming week, and there is much to talk about still. What Brazil wants from America above all is endorsement for a seat on the UN Security Council. Britain has already backed its bid, and during his visit to Brazil Mr Obama made baby steps in the same direction, acknowledging Brazil’s “aspiration”, though stopping short of full support.
That support is unlikely to be forthcoming, at least in the near future. Though Brazil is hardly geopolitically troublesome, its worldview—a hard-to-pin-down blend of pragmatism, relativism and a seemingly indiscriminate willingness to be friends with everyone—is unappealing to the United States. The previous president, Luiz Inácio Lula da Silva, was flexible enough to be “my man” to Barack Obama and “our brother” to Fidel Castro. In 2010 Lula stuck his neck out trying to co-broker, with Turkey, an anti-proliferation agreement with Iran’s president, Mahmoud Ahmadinejad. That infuriated countries far more important to Brazil’s strategic interests, and left Lula looking silly when Mr Ahmedinejad made no concessions in return. Ms Rousseff has rowed back from that friendship, but it reinforced an impression that Brazil is unpredictable and naive.
Mr Obama will surely want to know, too, what exactly Brazil means by its big new foreign-policy idea. That is to complement the UN’s justification for intervention in another country’s affairs under the rubric “Responsibility to Protect” with “Responsibility while Protecting” after it has gone in. Since Brazil tends not to support going in in the first place, when would it want to see this new responsibility kick in? Even some experienced and sympathetic diplomatic observers in Brasília say they have no idea what concrete difference this would make on the ground.
For America, trade, not diplomacy, will surely be top of the agenda. Judging from the number of American investors turning up in São Paulo every week, Mr Obama must hear about the glowing opportunities Brazil presents in just about every time he meets businessfolk. But with the most overvalued currency of any big economy, Brazil’s own industrialists are prodding the government to keep imports out. It has hiked already-high tariffs on many imports even further, and is taxing foreign-currency inflows increasingly heavily to keep out speculative inflows. Brazil has made it clear it only wants long-term investment, and is only interested in foreign businesses that are willing to make whatever it is they want to sell in Brazil.
If Mr Obama tries to argue for freer trade, he will get short shrift. Both Ms Rousseff and her finance minister, Guido Mantega, regard the floods of cheap money being pumped out by the Fed and the European Central Bank as a far worse trade distortion than Brazilian barriers, which they term “safeguards” rather than “protectionism”. Brazil’s drift towards protectionism is in fact becoming a problem for its own economy. But that is an argument for another day. Mr Obama will surely be aware there is still a lot of mileage to be got out of helping American companies to set up shop in Brazil.