domingo, 22 de abril de 2012


Discurso na cerimônia do Dia do Diplomata – formatura da turma de alunos do Instituto Rio Branco - Brasília, 20 de abril de 2012


Fonte: Ministério das Relações Exteriores


É uma honra contarmos com a presença da Senhora Presidenta da República no Itamaraty no Dia do Diplomata.
Hoje é o dia da formatura dos nossos novos colegas, todos já plenamente integrados e desempenhando funções nas diferentes áreas do Itamaraty.

Estamos lidando com as realidades de um mundo novo e de um Brasil novo.

Está em curso um processo de redistribuição do poder nas relações internacionais. E o Brasil atual – o Brasil da democracia e dos direitos humanos, o Brasil do crescimento econômico, da inclusão social e da consciência ambiental – é ator de crescente influência nesse processo.

Desde o início de 2011, temos envidado esforços em favor de uma política externa que reflita as diretrizes e linhas de ação definidas pela Senhora Presidenta da República. Diretrizes e linhas de ação que colocam a política externa a serviço do desenvolvimento nacional em que estamos todos engajados. 

Tem sido intensa, como Vossa Excelência sabe melhor que ninguém, a agenda de visitas a outros países e a participação em eventos multilaterais. Da mesma forma, têm sido numerosas as autoridades estrangeiras recebidas em Brasília, que é hoje uma das capitais do mundo com maior atividade diplomática.

Na cerimônia de hoje, não caberia passar em revista tudo que foi feito nestes últimos 16 meses. Gostaria, sim, de assinalar algumas ênfases e idéias que vão traçando o perfil da atuação externa do Brasil na Presidência Dilma Rousseff.

Começaria por mencionar a prioridade atribuída a ciência, tecnologia e inovação, com vistas a contribuir para a ascensão do Brasil a um novo estágio de desenvolvimento, fundado em uma economia mais flexível e competitiva. Esta ênfase reflete-se, por exemplo, no temário de várias das visitas realizadas e na cooperação educacional impulsionada pelo “Ciência sem Fronteiras”. Nossas Embaixadas e Consulados estão mobilizados na identificação de oportunidades no exterior para estudantes e pesquisadores brasileiros.

Outra ênfase diz respeito ao contato com o setor privado e o conjunto da sociedade civil. A agenda internacional de Vossa Excelência tem-se caracterizado por uma interlocução estreita e sistemática com representantes de empresas brasileiras que, em número crescente, dirigem seu olhar e seus investimentos para outros países. Assim foi em Hannover, Washington e Havana.

Há pouco mais de um mês, na viagem presidencial a Hannover, um empresário brasileiro da área de tecnologia da informação comentou que traços distintivos da competitividade brasileira são a criatividade e a imaginação. Precisamos aprender a melhor aproveitá-las.

É possível dizer que uma certa criatividade tem estado presente em contribuições conceituais do Brasil para importantes debates internacionais. Em alguns casos temos conseguido algo que, sabidamente, não é trivial: incluir novos temas na agenda global. 

Nas Nações Unidas, em setembro do ano passado, Vossa Excelência lançou o conceito de “responsabilidade ao proteger”, como complemento necessário da chamada “responsabilidade de proteger”. Trata-se de maneira inovadora de dirigir a atenção para aspectos obscurecidos em muitas das discussões sobre o uso da força para a proteção de civis, deixando clara a responsabilidade de quem protege: em hipótese alguma poderá causar mais destruição e instabilidade do que pretende evitar.

Também na esfera das relações comerciais e financeiras introduzimos idéias inovadoras. Em linha com as manifestações públicas de Vossa Excelência, o Brasil ajudou a trazer para a OMC a questão dos efeitos do câmbio sobre o comércio. Após vencermos resistências de todo tipo, conseguimos abrir caminho para o tratamento de tema que passa a ser amplamente reconhecido como atual e relevante. 

Essa confluência de ênfases e idéias está no cerne do esforço para a preparação da Conferência Rio+20. O caminho percorrido pelo Brasil na conformação de um novo modelo de desenvolvimento com inclusão social e consciência ambiental; a prioridade atribuída, também na ação externa, a ciência, tecnologia e inovação; a incorporação crescente, ao nosso trabalho, da perspectiva do setor privado e da sociedade civil; nossa capacidade criativa nos posicionam como anfitrião capaz de fazer da Rio+20 momento histórico na consolidação de um novo paradigma de desenvolvimento.

Senhora Presidenta, caros formandos,
O Brasil quer ajudar a construir uma ordem internacional mais justa e conducente ao progresso econômico e social.

Como observou a oradora da turma, a transformação do sistema internacional não é um movimento natural, pelo qual se possa esperar passivamente. Há que se trabalhar por uma transformação que leve ao surgimento de um sistema internacional mais cooperativo, melhor capacitado para promover o desenvolvimento e a paz.

Estamos especialmente bem posicionados para esse objetivo. 

Temos relações diplomáticas com todos os países das Nações Unidas.

Estamos ampliando os quadros do serviço exterior, tanto na carreira de diplomata como na de oficial de chancelaria. 

Contamos com uma rede de representações diplomáticas e consulares que figura entre as maiores do mundo.

A partir dessa base institucional, que procuraremos sempre fortalecer, o Itamaraty empenha-se em contribuir para a inserção internacional de um Brasil que articula dois imperativos: o aprofundamento da integração sul-americana, nossa prioridade, e a ampliação de nossa presença em escala global.
No primeiro caso, além da atenção diferenciada à relação bilateral com cada vizinho, nos valemos de processos dinâmicos e abrangentes de integração, como o MERCOSUL, a UNASUL a CELAC.

No segundo caso, trata-se de reforçar parcerias com o mundo desenvolvido e em desenvolvimento: isso envolve não somente um olhar especial sobre a África, nosso vizinho atlântico, como a consolidação das relações bilaterais com os pólos da ordem internacional que se desenha, sejam potências estabelecidas, sejam emergentes, e a interlocução com o IBAS e o BRICS.

Costumo dizer que os diplomatas brasileiros precisam ser mais sul-americanos e mais multipolares. Precisam ser mais multilíngües. Precisam da visão de conjunto e, simultaneamente, de conhecimento técnico. 

Quero registrar meu reconhecimento ao Embaixador Georges Lamazière, que tem introduzido alterações curriculares para modernizar nossa formação profissional.

Assegurar a vitalidade desse espírito de aperfeiçoamento de nosso profissionalismo é a melhor homenagem que podemos prestar ao legado do Barão do Rio Branco, cujo centenário de morte lembramos este ano.
Senhoras e Senhores,

Felicito os formandos pela escolha de seu paraninfo. 

O Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães é um talentoso diplomata, um respeitado intelectual, um incansável professor. Como Secretário-Geral, teve uma gestão marcada pelo empenho no fortalecimento institucional do Itamaraty. Continuo a inspirar-me no seu exemplo e na sua visão de um Brasil próspero, justo, democrático e soberano.

Felicito a turma, também, pela justa homenagem que fazem a Milena Oliveira de Medeiros, jovem diplomata cujo desaparecimento prematuro foi profundamente sentido por todos nesta Casa. 
Ao cumprimentar seus familiares, quero dizer que a Secretária Milena deixou lembranças indeléveis em todos que pudemos privar de seu convívio. Não me esquecerei de nosso encontro em Malabo, na Guiné Equatorial, durante a reunião ministerial da ASA, quando pude descobrir uma jovem talentosa e determinada, e conversar sobre sua carreira e sua paixão pela música.

Caros formandos,

Vocês escolheram uma profissão que, abraçada com entusiasmo e espírito público, oferece oportunidades de realização pessoal e profissional praticamente ilimitadas.

A preservação e ampliação do patrimônio da diplomacia brasileira agora é também tarefa de Vocês. 

Muito obrigado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário